terça-feira, outubro 25, 2005

Poeminha bobo...


Queria ser assim
Mudar, me vestir, me rasgar,
Ser o que deveria ser
Como deveria ser
Ser o jeito mais certo pra você e pra mim
Pra nós, enfim...

Ser o bem e não só o mal
Ser tudo e não só o que convem
Saber retribuir
Saber ser pra ti
O que tu es pra mim

Ouço vozes no silencio
Elas dizem que te engano
Que te faço mal e te decepcionarei
E não sou como deveria ser
Não o suficiente

Estou fazendo o melhor que posso
Mesmo não sendo o que deveria
Estou tentando
E nessa minha tentativa
Eu juro
Um dia ainda nos levarei para um lugar seguro




“Somos o que queremos ser,
Sonhos que podemos ter”

sexta-feira, outubro 21, 2005

Eu por mim mesma...


"Já fiz cócegas no meu irmão só pra ele parar de chorar. Já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxa. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em arvore pra roubar fruta, já caí da escada. Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentada no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinha no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi vodka até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um “para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão."

sexta-feira, outubro 14, 2005

E ainda me invejam...

Carinhos... Sorrisos... Conversas...
Família perfeita?? Não, ótimos atores...



Lugares perfeitos, alegria, conversas, musica, dança, boa comida, gente bonita, bebida, coisas boas e todas juntas...e todas falsas...



Não queria estar ali...nem queria ser assim...mas eu estou, eu sou...
Fico sorrindo enquanto queria gritar, correr, estar longe...



Estou acompanhada por dezenas de pessoas, mas me sinto sozinha, querendo estar apenas com uma, a única que a distancia me impede...



Não demonstre sentimentos, sorria, seja agradável, saiba dançar, mastigue de boca fechada, elogie a comida, não corra nem fale palavrões, tenha respeito pelos mais velhos e os escute com atenção, enfim, não seja você...



Sou assim, mas não sou, não é meu jeito, mas é com eles querem que eu seja...e agora Quero ir embora, sair daqui, esquecer de tudo começar de novo, ser quem eu sou de verdade e não fingir, chega de ouvir musicas detestáveis e conversar com pessoas vazias, quero meu amigos de volta, minhas musicas, meus CD’s, meus livros, minhas coisas, meu mundo...coisa que nunca foram minhas, mas sempre me pertenceram...



Não sou fantoche, sei o que quero e onde pretendo chegar, mas preciso deles, pelo menos por enquanto, e por isso vou deixá-los pensar que me dominam que sou o que eles querem que eu seja, mas ainda morreram pela própria força...



“Não é a vida como está e sim as coisas como são”

sexta-feira, outubro 07, 2005

Longe do meu lado


Legião Urbana


Se a paixão fosse realmente um bálsamo
O mundo não pareceria tão equivocado
Te dou carinho, respeito e um afago
Mas entenda, eu não estou apaixonado
A paixão já passou em minha vida
Foi até bom mas ao final deu tudo errado
E agora carrego em mim
Uma dor triste, um coração cicatrizado
E olha que tentei o meu caminho
Mas tudo agora é coisa do passado
Quero respeito e sempre ter alguém
Que me entenda e fique sempre a meu lado
Mas não, não quero estar apaixonado

A paixão quer sangue e corações arruinados
E saudade é só mágoa por ter sido feito tanto estrago
E essa escravidão e essa dor não quero mais
Quando acreditei que tudo era um fato consumado
Veio a foice e jogou-te longe
Longe do meu lado

Não estou mais pronto para lágrimas
Podemos ficar juntos e vivermos o futuro, não o passado
Veja o nosso mundo
Eu também sei que dizem
Que não existe amor errado
Mas entenda, não quero estar apaixonado

segunda-feira, outubro 03, 2005

Gestantes, Idosos e Deficientes

Mário Prata


Sábado, supermercado supercheio. Entro para comprar três latinhas de cerveja. Dab, alemã, sem álcool.

Vou para a "fila de até dez", que está emperrada porque a mocinha está fechando uma temporada e, para passar para a outra mocinha, tem de dar baixa não sei em quê. Olho as filas normais. Imensas. Gente com dois carrinhos. Alfaces convivendo com milhares de papéis higiênicos. Lá no fundo, uma fila. Só um velhinho.

E a placa, em cima: gestantes, idosos, deficientes físicos. Dou uma piscada para a mocinha, a mocinha faz um beiço de tudo bem e eu fico ali. Só que chega uma idosa. E gorda e mal-humorada. No que eu me viro para dar o lugar a ela, ela ataca:

— Está grávida, é?

Evidentemente que ela estava a falar comigo e eu não estava grávido. Não tinha nenhum sintoma, até então. Mas a idosa era agressiva e eu resolvi não ceder o lugar para ela. E senti uma certa solidariedade do velhinho que lutava para enxergar o dinheiro dentro da carteira. Fiquei na minha. Mas a idosa estava a fim de briga:

— Idoso, meu senhor?

Eu, ainda calmo:

— Não senhora. Envelhecente.

Ela ficou pensando na palavra, mas acho que não captou o neologismo.

Resolvi olhar as compras dela. Bananas. Milhares, milhões de bananas. E nada mais. E a revista Capricho.

E ela caprichou na terceira estocada:

— Por acaso o senhor é deficiente físico?

E olhou para as minhas pernas que estavam onde sempre estiveram, firmes. Fiz cara de triste:

— Sou. Infelizmente sou deficiente físico.

Ela se abalou:

— Desculpa, eu não havia percebido. É que sempre tem uns malandros, sabe? Uns espertinhos.

Eu fiquei quieto. Ela me cedeu a vez. Coloquei as cervejas em cima da mesa. Mas ela era curiosa:

— De nascença?

— É, sim senhora. Os dentes. Está vendo os meus dentes? São pra frente. Isso é uma deficiência física, não é?

Ela quase chamou o gerente:

— Engraçadinho...

E eu:

— E tem mais: meu fígado é deficiente físico. Está despedaçado. Meu pulmão, não é de hoje. Completamente deficiente. E se a senhora quiser, tenho uma unha encravada fisicamente deficiente.

— Não estou achando a menor graça!..

— E a vista? Está escrito na minha carteira de motorista: deficiente visual! Escuto pouco, minha senhora. Tenho essa deficiência também: auditiva.

— Você é um idiota. Vou falar com o gerente.

E partiu. Paguei a minha conta, estava saindo quando ela chega com o gerente. Ela já havia infernizado o rapazinho, que veio por educação, mesmo. O gerente:

— Por favor, o que está acontecendo?

Eu:

— É essa senhora, seu gerente. Além de idosa, deficiente física!

— Eu? Deficiente física?

— Claro, ou a senhora estava na fila porque é gestante? Que eu saiba, ninguém engravida com bananas. Ainda mais verdes e duras como essas!

Fomos todos para a delegacia. A mulher era delegada aposentada. Desacato à autoridade. Documentos. A mulher era mais jovem do que eu. Bingo! Tava era acabada mesmo! Porque, gestante, não era. Nem idosa.

Devia ser, como eu, deficiente física. E mental.

E o gerente, aproveitou:

— Tem só um detalhe, minha senhora. A senhora não pagou as bananas.

Te poupo do que ela disse para o rapazinho fazer com as bananas duras e verdes